Há uma explicação simples para a decisão de
Israel de aumentar a aposta em Gaza. É só porque tem superioridade
militar e sabe que não haverá consequências, ao menos em
termos internacionais.
Barack Obama virou para o
lado, dizendo que mais ou menos entende por que Israel está fazendo
isso, mas que esperava que eles tentariam evitar mortes de civis. O
chanceler britânico William Hague deixou claro qual o lado que a Grã-Bretanha
escolhera, declarando que “o Hamas tem a responsabilidade maior pela
atual crise”. Mesmo o Egito, ao condenar o ataque israelense, foi
cuidadoso na resposta, uma vez que não são poucos os palestinos em
Gaza que gostariam de ver o Hamas receber uma derrota humilhante.
A única consequência real foi
a morte de três israelenses. Mas isso também poderia servir aos
propósitos do premier Benjamin Netanyahu. Quanto mais o conflito se
agravar, mais dura será a resposta israelense e mais Israel vai se sentir
como uma nação atacada a dois meses de o premier enfrentar uma eleição.
E assim a coisa segue, como
quando Israel desistiu da ocupação da Faixa de Gaza em 2005. E assim
vai continuar a ser, sem dúvida, por um longo tempo. Isso porque, apesar
de toda a dor, um grau de hostilidade relativamente baixo é tolerável
e mesmo politicamente bom para ambos os lados. Com a paz, o apoio ao Hamas
pode cair entre os palestinos desesperados por um futuro melhor. Com
guerra, eles vão se juntar ao Hamas como a única organização capaz de
enfrentar Israel. Mas a paz também não é interesse de Israel, que
desistiu da ocupação de Gaza não porque queria uma Palestina separada
viável, mas porque sabia que não poderia continuar a ocupação direta
de um povo que poderia ultrapassá-lo em tamanho. Controlar as
fronteiras, frear o comércio, matar líderes é uma forma de ocupação
por outros termos. O conflito contínuo em Gaza ajuda a garantir que a
divisão entre a Autoridade Nacional Palestina e o Hamas aumente e que
a perspectiva de um Estado palestino viável fique cada vez mais distante.
Lançar bombas também é útil
para um governo que cada vez mais enfrenta isolamento com a Primavera
Árabe, a eleição de um presidente da Irmandade Muçulmana no Egito
a um Hamas que recebeu apoio e visita do chefe do Qatar. Uma escalada
de hostilidades neste momento coloca um ponto final em
qualquer pressão por negociação sobre a Palestina. Obama pode ser
simpático à ideia de renovar as conversas, mas ele não vai intervir
quando não há possibilidade de sucesso.
Para que haja uma chance de
paz, são necessários um Israel que a queira e uma Palestina unida o
suficiente para dá-la. Não há muita chance de nenhuma das duas coisas
ocorrerem. O que está mudando é o contexto internacional. Quando os
palestinos forem à ONU no fim do mês buscar um status de
observador, Israel vai perceber que tem poucos amigos e menos ainda
que o apoiem com entusiasmo. Atacar Gaza não vai ajudar em nada.
Adrian Hamilton é colunista do
“Independent”
Nenhum comentário:
Postar um comentário